Criação, pesquisa, e educação em arte e ecologia do SER.
Instalações, ações coletivas, produções audiovisuais, imagens digitais, fotografias.


COMO?

COMO?

Como obter situações que permitam subverter poeticamente as restrições espaço-temporais, que rompam com as referências habituais, e proponham a vivência perceptiva de uma estreita interação entre sujeito, espaço e tempo, onde um presente contínuo, suspenso e ampliado, que contenha movimento, pulsação e ritmo, possa ser experimentado? Os interstícios, as zonas híbridas de transição entre o objeto e a luz, entre a pausa e o movimento, entre o sujeito e o espaço-tempo, são lugares entre, estreitos, mistos e contaminados, carregados de tensão por estarem nos limites de territórios que se confrontam; constituem zonas vibrantes de comunicação e transformação. Alcançar uma condição de estar DENTRO do ENTRE, dentro de uma zona intersticial de sobreposição, e expandir esta zona de contato seria uma estratégia para reconfigurar o corpo e integrá-lo melhor à percepção, reunir sensibilidade, sensação e intelecto, obter a fruição do corpo vivo em um estado de consciência e de afetividade amplificados? Como experimentar o ato de EXISTIR com o corpo todo desperto, e alcançar um ESTADO DE SER no qual experiência direta e indireta já não se diferenciam, onde externo e interno estão entrelaçados, onde há uma simbiose entre corpo, espaço-tempo e alteridade? O grande desafio é incorporar o não controlável através do improviso com inteligência, alcançar uma situação vibrante, sensível, sutil e criativa de sincronicidade entre o SER e o ESTAR, um espaço-tempo ontológico do self entre a memória e a entropia, no qual possa haver uma fusão, um lugar que reúna o sujeito e o meio, onde a percepção do estado de existir, tanto na condição de indivíduo como na de parte de um coletivo, seja simultânea e intensificada.

Mas COMO?

Monique Allain


ALGUMAS PALAVRAS

Os trabalhos são uma forma poética de pensar as relações entre o homem, os espaços que cria e transforma e o movimento decorrente desta dinâmica, dentro de uma dimensão privada e pública. O tripé arte, biologia e filosofia é o motor de criação.

O interesse pela biologia e pelas questões ambientais conduziu à escolha da formação inicial em ciências físicas e biológicas, da posterior atuação profissional como consultora ambiental, e sedimentou-se no processo de desenvolvimento artístico. A produção incorporou conteúdos que envolvem noções de sustentabilidade, de consciência pelo movimento, e da biologia do SER.

Partindo de uma compreensão do espaço como corpo e do corpo como espaço, as potencialidades sinestésicas da imagem digital são exploradas e funcionam como trabalhos autônomos ou como elementos-base para composição de diálogos, situações de encontro e de troca, tais como performances, intervenções urbanas, ações coletivas, instalações audiovisuais e “habitações". As propostas privilegiam a participação do público.

A hibridização de meios diversos, desde a pintura ao vídeo, à fotografia e à outras tecnologias digitais é um recurso constante e revela um território convergente nas diversas formas que a imagem hoje assume. Torna-se difícil diferencia-la em categorias, tanto no que diz respeito à técnica como ao modo de representação e apresentação. Assim, natureza e origem se perdem, os limites entre realidade e ficção, entre materialidade e virtualidade se dissolvem.

A intenção é propor vivências que possibilitem um mergulho “dentro do entre”, em zonas de transição e sobreposição (entre o objeto e a luz, entre a pausa e o movimento, entre a realidade e a imagem). Esses lugares estreitos e não rotulados são instáveis e oferecem um amplo potencial de comunicação e de transformação. Habita-los pode ser uma forma de expandi-los. A atmosfera criada através do diálogo entre os sons e imagens, geralmente em grandes formatos, visa subverter poeticamente as restrições espaço/temporais, romper com as referências habituais e propor a vivência perceptiva de lugares onde a integração entre sujeito, espaço e tempo aconteça de outras maneiras, onde um presente contínuo, suspenso e ampliado possa ser experimentado. Procura-se obter com isso, a fruição do corpo vivo em um estado amplificado de afetividade e percepção consciente, de modo a alcançar um “estado de ser” no gerúndio (“state of being”, termo empregado pelo artista Robert Morris), no qual a experiência direta e a indireta já não se diferenciem, onde externo e interno estejam entrelaçados e haja uma simbiose entre corpo, espaço-tempo e alteridade. Deste modo, talvez se possa alcançar uma maior sincronicidade entre o SER e o ESTAR, um lugar que reúna em um plano comum o sujeito e o meio, onde a percepção do estado de existir, tanto na condição de indivíduo como na de parte de um coletivo, seja intensificada.

Monique Allain

quinta-feira, 30 de setembro de 2010

ART BABEL 2009

Intervenção com expressão coletiva nas janelas da Cité Internationale des Arts
Janeiro 2009.

As pessoas vinculadas à Cité Internationale des Arts, residentes provenientes de diversos países, artistas visuais, músicos, bailarinos, teóricos, profissionais da instituição, todos aqueles que faziam parte desta “Torre de Babel” no coração de Paris foram convidados a se expressarem em suas janelas.
O evento realizado dia 23/01/2009 entre 20h00 e 22h00 contou com o apoio da Cité e com a participação de inúmeros residentes.

 A intervenção ART BABEL investiga uma zona intermediária onde a individualidade do sujeito e sua consciência de pertencer a uma coletividade podem se manifestar simultaneamente.

domingo, 26 de setembro de 2010

Symbiosis - MAB FAAP Centro

Registros poéticos em vídeo de improvisação corporal, sonora e visual, com projeções de imagens da série FOTOGRAFIAS CINÉTICAS sobre o corpo.
Concepção: Monique Allain
Vídeo projeção: Monique Allain
Improvisação corporal: Anne-Flore Cabanis
Improvisação sonora: Matthieu Avril e Igor Gioconda Oliveira


Imagem do vídeo S2 da série SYMBIOSIS. Trata-se de um dialogo com improvisações sonora, visual e corporal que contou com a participação de Anne-Flore Cabanis na improvisação corporal, de Matthieu Avril na improvisação sonora e de Monique Allain na projeção das imagens da série FOTOGRAFIAS CINÉTICAS e produção do vídeo.
Vídeos da série Symbiosis foram projetados sobre a janela do estúdio 1422 na Cité Internationale des Arts para a intervenção coletiva ART BABEL 2009. O evento realizado dia 23/01/2009 entre 20h00 e 22h00, também foi concebido e organizado por Monique Allain, contou com o apoio da Cité e com a participação de inúmeros residentes.

Em setembro de 2010, os vídeos S2 e S3 foram apresentados no MAB-FAAP CENTRO, transmitidos em dois munitores de LCD, dispostos lado a lado, e integraram a exposição A FAAP em Paris.

A série de vídeos Symbiosis I se originou da busca de uma simbiose entre o corpo, o meio e a alteridade. Como estabelecer um intimo diálogo entre o sujeito, o som e as luzes de um espaço-tempo suspenso e ampliado
de modo que o indivíduo e seu meio componham uma unidade, de modo que um presente vibrante e sensível, sutil e criativo, de sincronicidade entre o SER e o ESTAR possa ser experimentado? Como alcançar um espaço/tempo ontológico do self, entre a memória e a entropia, um lugar onde a percepção do estado de existir tanto na condição de indivíduo como de parte de um coletivo possa ser expandida?




Stills de registros de experiências realizadas durante a residência na Cité Internationale des Arts que conduziram à concepção do projeto SYMBIOSIS.

Fotografias cinéticas
O “existir” acontece no tempo presente, fração mínima espremida entre o passado (memória) e o futuro (projeção) pela sua contínua renovação. A fotografia é uma manifestação concreta da fugacidade do tempo. Por maior que seja a duração da ação impregnada, por maior que seja o período de abertura e disparo do obturador, ocorre um achatamento temporal resumindo toda esta ação a um único instante (fração mínima temporal). Ao registrar um acontecimento ela o coloca no passado, congela a imagem e achata o movimento. O vídeo, apesar de ter um mecanismo diverso, também denuncia a efemeridade dos estados através das transformações da imagem e do som no intervalo de tempo em que ele acontece.

Vejo a série de FOTOGRAFIAS CINÉTICAS como híbridos entre a fotografia e o vídeo pela constância e permanência nas composições. A câmera, como uma extensão do corpo, funciona como uma espécie de memória onde se imprime a experimentação direta e pulsante deste corpo dentro do espaço-tempo vivido. Não se trata de uma seqüência com uma narrativa linear, mas de um intervalo de tempo de pausa com ritmo, vibração e respiração. Exploro com estas imagens os limites entre a fotografia e o vídeo.

sexta-feira, 24 de setembro de 2010

MENSAGEIRAS 2010

Intervenção com ocupação interativa em espaço público para a exposição OXIGÊNIO 2010
Work in progress
Parque Buenos Aires
18/09/2010 a 03/10/2010
http://mensageiras-2010.blogspot.com/
http://ocupacaooxigenio.wordpress.com/


Concepção: Monique Allain
Apoio técnico paisagístico: Terra Orgãnica
Produção: Monique Allain, Edu Lotfi & Ricardo Cattassini

Vinte e sete sacos plásticos brancos, abertos, presos com uma pedra apoiada sobre eles, são dispostos no chão e formam pequenos canteiros de plantas artificiais, canteiros de possibilidades. O número corresponde aos vinte e seis Estados e ao Distrito Federal de nosso país.


O público é convidado a substituir estes sacos e plantar no lugar, mudas de palmito Jussara, espécie Euterpe edulis, nativa da Mata Atlântica e ameaçada de extinção.
Os participantes inscrevem seus nomes e o nome das pessoa a quem dedicam as mudas plantadas sobre a pedra que prende o saco plástico a ser removido. As mudas são adotadas por um número ilimitado de pessoas.
As mudas permanecem na praça após o evento como um banco de sementes para futuras gerações
Este projeto prevê uma expansão e multiplicação com envolvimento de outras praças nas quais outras espécies nativas da Mata Atlântica serão acolhidas. A idéia é transformar as praças de São Paulo em abrigos e locais de preservação das espécies ameaçadas da Mata Atlântica, e envolver os habitantes dos bairros nas questões ambientais, convidando-os a cuidar dos espaços públicos coletivos que freqüentam.

O projeto Mensageiras IV também tem como propósito promover a vivência, a interatividade e a formação de vínculos com o espaço e a alteridade. O parque torna-se um local de cumplicidade e encontro, um local de construção a ser compartilhado.


O trabalho foi concebido para a exposição OXIGENIO2 em 2010
http://ocupacaooxigenio.wordpress.com/

Convite virtual

Esta é a 4ª edição da obra MENSAGEIRAS. Ela é um desdobramento da intervenção realizada no mesmo parque para a exposição OXIGÊNIO em 2009. 


A primeira edição foi feita em 2003, fotografada e encaminhada como protótipo à curadoria da exposição Sculpture by the Sea em 2003 e exibida em exposições em São Paulo. O trabalho tendo sido aprovado, a segunda edição foi concebida para a exposição em 2003, em Sydney, Austrália.

sexta-feira, 17 de setembro de 2010

M no M

Registros poéticos de intervenção urbana MENSAGEIRAS III no Parque Buenos Aires

Data: 17/08/2019
Local: Rua Aspicuelta, no 201.
Horário: a partir das 19h00.



Bar Madeleine abre a exposição M no M com obras de Monique Allain dia 17/08/2010. São apresentados 21 registros poéticos da intervenção urbana, Mensageiras III, realizada no Parque Buenos Aires em 2009, para a exposição coletiva OXIGÊNIO. As imagens são apresentadas em superfícies translúcidas sobre pequenos suportes luminosos desenvolvidos para este fim. A intervenção é um work in progress, um trabalho em processo, que acontece na duração do tempo. A intervenção Mensageiras III se iniciou com 236 sacos plásticos brancos plantados sobre a grama. O conjunto aguardava a participação das pessoas para se transformar em um canteiro de flores. Durante o período da exposição, o público foi convidado a substituir os sacos por vasos com flores brancas, e construir assim, um canteiro coletivo de possibilidades. O intuito foi propor um espaço de aproximação, encontro, troca e confraternização, no qual questões sobre sustentabilidade, preservação e alteridade fossem abordadas.



Veja mais detalhes sobre as obras:
http://mnom-moniqueallain.blogspot.com/


terça-feira, 29 de junho de 2010

NóS

http://nos-projeto.blogspot.com/

                               
 Fotografia de J.J. Oliveira

 Conceito: Monique Allain
Coordenação e produção: Gisella Sá-Pipatpan e Monique Allain

O projeto NóS consiste na realização de pique niques noturnos (4 por ano), em datas pré–estabelecidas aos domingo, que faremos em praças públicas de São Paulo. O objetivo é propor uma vivência coletiva na qual se possa desfrutar das áreas verdes da cidade e de situações de aproximação, encontro e troca entre pessoas. Queremos promover a formação de vínculos, a comunicação olhos nos olhos e o contato corpo a corpo na dimensão palpável do mundo, construir um corpo coletivo que chamamos de NóS.
 
Para pasticipar basta enviar uma mensagem comunicando nome, email, telefone e motivação, e nós incluiremos você na lista de participantes. Não fazemos distinção de raça, preferência sexual, partido político ou religião! Gostamos da diversidade e da diferença. Nossa condição é apenas o respeito e a harmonia.

Informaremos em breve no blog mais detalhes sobre o próximo evento e confirmaremos a data, sujeita a alterações em função de possíveis intempéries.
 
Cordial abraço,
 
Gisella e Monique
nos2010@ymail.com

quarta-feira, 12 de maio de 2010

Symbiosis II



Symbiosis II

Corpo sensível em movimento
Intervenção multimídia com vivencia interativa em espaços coletivos de encontro e confraternização, a princípio contextualizados do campo da arte.
Ensaio realizado no NEXT em dezembro 2009.


Imagem capturada da vivencia SIMBIOSE II no NEXT em 27/12/2009 por Dennis Phillips.

Sinopse
Como estabelecer um íntimo diálogo entre o sujeito e seu outro? Como alcançar uma fusão e sintonia do corpo vivo e pulsante com o som e as luzes de um espaço-tempo suspenso e ampliado, de modo que o indivíduo e seu meio componham uma unidade e a percepção de existir seja expandida?
A intervenção multimídia SYMBIOSIS II consiste na experimentação de diálogos entre o corpo e um espaço coletivo comum e compartilhado, com improvisação de movimento e improvisação sonora, a procura de uma simbiose entre o indivíduo, seu coletivo e seu meio. Procuro subverter poeticamente as restrições espaço/tempo habituais, visando experimentar a vivência de um espaço/tempo perceptivo intenso e dinâmico.

Descrição
Chocalhos preparados com garrafinhas de água e cascalho, em quantidades variadas de modo a produzir sonoridades diversas, fitas e plásticos espelhados, e pequenas lanternas LED com presilhas para fixação sobre as vestes são oferecidos a um publico descontraído, enquanto este acomodado nas mesas de um bar conversa. Depois de auxiliar as pessoas a se prepararem, as luzes são apagadas, e inicia-se a projeção do vídeo ALIVE sobre uma das paredes do ambiente. O convite é feito para que se levantem, dirigiram-se no centro das mesas em um espaço aberto, e, a partir de vivencia do próprio corpo em movimento estimulado pela experiência sensória, estabeleçam um dialogo sonoro e visual com os participantes e com o improviso da banda musical. A projeção com mais de 3ms de largura apoiada a 60 cm de altura do chão na parede ao fundo onde as pessoas se encontram envolve-as. A banda inicia uma improvisação musical com a qual estabeleço um dialogo, dando inicio ao acontecimento, colocando-me como exemplo e incentivo ao publico de modo que ele perca a inibição e participe. Cada indivíduo se coloca como deseja frente à situação. Ignorar, assistir, participar ou simplesmente se retirar, trata-se de uma escolha. A vivência não tem uma previsão rígida de tempo de duração. Faz parte do processo, deixá-la terminar por si mesma. A ação realizada na filmagem do vídeo ALIVE e projetada na parede se mescla às sombras das pessoas ali presentes compondo uma fusão espaço-temporal na imagem. A dinâmica e interatividade alcançada envolvendo o som dos chocalhos, as vozes mescladas à improvisação musical, os desenhos efêmeros produzidos pelas luzes em movimento e a iluminação indireta nas paredes constroem uma atmosfera energética de presença de vida e comunicação que impregnam o ambiente. As vivencias corporais imprimem e configuram o espaço do acontecimento, um espaço de acolhimento e comunicação, coletivo na sua essência, vivo, fluido e efêmero, hibrido entre o virtual e o palpável, um lugar de acumulação temporal no qual uma diluição das fronteiras entre os corpos e o espaço, entre o tempo presente e a memória de instantes passados possa acontecer. Quando o dialogo coletivo cessa, encerra-se a vivencia.
A ação dos corpos presentes recobertos com espelhos e “ledges” na sala escura com paredes brancas, produz estímulos visuais e auditivos, impregnando o ambiente. As vivencias corporais imprimem e configuram o espaço do acontecimento.
O objetivo é incorporar o improviso e a espontaneidade para se alcançar uma vivencia sensória e promover a composição de um espaço de acolhimento e comunicação, coletivo na sua essência, um espaço vivo, fluido e efêmero, hibrido entre o virtual e o palpável, um lugar de acumulação temporal no qual ocorra uma diluição das fronteiras entre os corpos e o espaço, entre o tempo presente e a memória de instantes passados.

Outras paisagens












Fotografias digitais de fragmentos do corpo da artista são manipuladas até adquirirem aspecto de paisagens. As imagens são projetadas em grande formato na parede (slide show). O uso de escala ampliada com recortes nos enquadramentos foram procedimentos utilizados para descontextualizar as imagens e possibilitar a associação e interpretação mais aberta das mesmas, como paisagens oriundas da leitura de um espaço subjetivo. O material foi editado aumentando-se o contraste radicalmente e diminuindo-se a saturação da cor até atingir tons de terra, para destaca o relevo do corpo e auxiliar na desnaturalização das imagens. O propósito é trazer a noção de espaço como corpo.



Série de imagens outras paisagens, produzida a partir de fotografias digitais do próprio corpo manipuladas no computador.

Corpo-paisagem











































Imagem capturada durante ensaio com o público no NEXT em 13/11/2009. Atuação de Maria da Paixão de Jesus.

Corpo-paisagem
Work in progress em dois tempos
1o momento: Performance e vivencia interativa com projeção de fotografias digitais (20 a 35 min)
2o momento: Instalação fotográfica interativa
Concepção: Monique Allain
Performance: Maria da Paixão de Jesus e Monique Allain
Câmera: Gerson Damiani e Volker Minks
2009 - 2010

Como estabelecer uma sintonia entre o sujeito e o espaço onde este se insere?
“nos não mudamos o mundo, mas podemos mudar o modo de vê-lo” (SANTOS, 2007, p.40).


Sinopse
Corpo-paisagem é um “work in progress” no qual estão envolvidas diversas práticas artísticas em dois momentos diferentes . A primeira etapa corresponde a uma performance com vivência poética interativa e coletiva. Recursos tecnológicos são empregados de modo a integrar realidade física e dimensão virtual. Uma mulher despe-se iluminada com a projeção de imagens de outro corpo sobre ela, mescla-se a este corpo enquanto espalha sobre si argila branca em uma simbólica fusão com a terra. A seguir, oferece seu corpo ao olhar do artista, recortado e mediado pela câmera fotográfica. O público é convidado a participar da constituição destas paisagens subjetivas registradas pela câmera. Alguns dias depois, na segunda etapa do trabalho, as imagens digitais capturadas na primeira, editadas e impressas sobre a parede nos formatos quadrado e retangular, compõem frases em código Morse sobre o tema. O trabalho tem o propósito de investigar maneiras de se ver, interpretar, e se relacionar com o espaço e com o outro, propondo como viés a noção de espaço como corpo (e vice e versa).

Descrição do trabalho
A performance acontece no centro de uma área de aproximadamente 10 x 10ms (mínimo 60m2) de modo a permitir a presença e circulação do publico ao redor do acontecimento. Uma cortina de tecido branco fino e semitransparente (aproximadamente 3,75 x 5m) divide o espaço. Em frente à cortina, um tecido branco de malha aberto (2,5 x 2,5m) jogado displicentemente, recobre o chão. Sobre ele uma mesa retangular de aproximadamente 0,80 x 2,00m, um banco de comprimento equivalente, uma cadeira e uma bacia de alumínio estão dispostos e recobertos com outro pedaço do tecido branco. Completando a organização do espaço, há um balde de alumínio com pasta úmida de argila medicinal branca sobre o banco e um mancebo próximo do conjunto.
A concepção do projeto corpo-paisagem iniciou-se em setembro de 2009. Dois meses depois, surgiu a oportunidade de realizar um primeiro ensaio simplificado no NEXT Café .

A ação se inicia com o espaço no escuro. Liga-se o áudio, uma composição africana que remete às origens da espécie humana e às raízes africanas da cultura brasileira. Em seguida, fotografias digitais de fragmentos do corpo do artista, manipuladas com contraste e ampliadas até adquirirem o aspecto de paisagens (série outras paisagens) são projetadas na cortina em slide show. O uso de escala ampliada com recortes nos enquadramentos foram procedimentos utilizados para descontextualizar as imagens e possibilitar a associação e interpretação mais aberta das mesmas, como paisagens oriundas da leitura de um espaço subjetivo. O material foi editado aumentando-se o contraste radicalmente e diminuindo-se a saturação da cor até atingir tons de terra, para destaca o relevo do corpo e auxiliar na desnaturalização das imagens. O propósito é trazer a noção de espaço como corpo.

Depois de alguns minutos (aprox. 3 min), uma mulher se destaca do meio do publico e se dirige vagarosamente para o centro, onde esta o banco. Seu corpo banhado pela projeção se confunde com o espaço. Lentamente ela se volta para o público, estabelece contato visual, inspira profundamente e começa a tirar o roupão que depois pendura no mancebo. Nua, aproxima-se do banco, usa-o como degrau, senta-se sobre a mesa e começa vagarosamente a espalhar a argila sobre a pele de todo o corpo cobrindo-o, como se estivesse procurando alcançar uma fusão com a terra. Sua silhueta e as sombras incorporadas na imagem projetada reúnem temporalidades e situações. Há uma fusão entre a virtualidade e realidade palpável do espaço e do acontecimento para um único tempo, presente suspenso e ampliado. Enquanto a ação se passa, as pessoas estão livres para circular em volta, inclusive atrás da cortina. Por trás da mesma, forma-se uma imagem que concentra no mesmo plano o acontecimento e a projeção oferecendo mais uma possibilidade ao olhar.

Completamente imersa dentro da situação, ao terminar de espalhar a argila, quando totalmente recoberta, apóia-se confortavelmente sobre a mesa, entrega-se, descansa e saboreia a sensação de integração com o espaço.
Neste momento entro em cena com uma câmera fotográfica. O corpo da mulher tendo simbolicamente por meio deste “ritual” assumido sua condição de espaço, começa a ser fotografado. As imagens capturadas irão constituir uma serie de paisagens.

Com uma máquina fotográfica digital, Maria da Paixão de Jesus é fotografada durante experimentação no NEXT em 13/11/2009. Imagem registrada pelo publico.

O público em seguida é convidado a participar. A maquina fotográfica é oferecida e passa de mão em mão enquanto as pessoas que manifestaram o desejo de participar, interpretam o contexto e elaboram suas próprias paisagens. O conjunto destas imagens de autoria indefinida compõem um universo de paisagens deste espaço compartilhado, impregnadas com a presença do coletivo.

Participação do público na captura de imagens para a série de fotografias outras paisagens de 2º grau durante experimentação com o público no NEXT em 13/11/2009. Imagem registrada pelo público.

Quando o público dá sinais de que o tempo foi suficiente para vivenciar o acontecimento a mulher se levanta, sempre vagarosamente, cobre-se com o roupão, dirige-se em direção ao publico, passa por ele e deixa o local.
A música para e alguns segundos depois as imagens se apagam.
O espaço permanece por instantes em silêncio e no escuro. Este é um tempo de digestão.
Encerra-se a apresentação.
O evento é filmado com duas câmeras (na frente e atrás da cortina branca).
As fotografias realizadas pela equipe e pelo público, assim como os registros da performance em vídeo serão utilizados para o desenvolvimento da segunda etapa deste trabalho a ser realizada posteriormente em local a ser definido.
Na segunda etapa, os registros da performance serão transmitidos em 2 monitores de LCD fixos lado a lado, durante o período de exposição. As imagens fotografadas editadas utilizando os mesmos procedimentos empregados para a construção da serie outras paisagens (fotografias projetadas durante a apresentação), recortadas nos formatos 10 x 10cm e 10 x 30cm irão compor uma nova série intitulada paisagens em palavras. Deste conjunto, 40 imagens impressas digitalmente e adesivadas em PVC serão fixas em uma parede do espaço expositivo compondo a cada dia, frases elaboradas sobre o tema em código Morse. O publico poderá elaborar suas próprias sentenças dispondo à sua maneira outras 40 imagens adesivadas em manta imantada sobre uma placa de zinco fixa em outra parede do local.

Código Morse internacional obtido pela internet no endereço http://www.freewebs.com/g1eio/The%20International%20Morse%20Code.jpg em 29/01/2010.

Corpo-espaço
O que é o corpo?
O que é o espaço?
O que é o tempo?
O corpo é um espaço?
Nem sempre o espaço é um corpo...
O tempo é um espaço sem corpo?
O espaço é a condição de todos os corpos?
O tempo é a condição de todos acontecimentos?
O corpo é um acontecimento?
Nem todo acontecimento é um corpo...
O que somos?
Uma projeção do mundo que se projeta em nós?
Quem somos?