Criação, pesquisa, e educação em arte e ecologia do SER.
Instalações, ações coletivas, produções audiovisuais, imagens digitais, fotografias.


COMO?

COMO?

Como obter situações que permitam subverter poeticamente as restrições espaço-temporais, que rompam com as referências habituais, e proponham a vivência perceptiva de uma estreita interação entre sujeito, espaço e tempo, onde um presente contínuo, suspenso e ampliado, que contenha movimento, pulsação e ritmo, possa ser experimentado? Os interstícios, as zonas híbridas de transição entre o objeto e a luz, entre a pausa e o movimento, entre o sujeito e o espaço-tempo, são lugares entre, estreitos, mistos e contaminados, carregados de tensão por estarem nos limites de territórios que se confrontam; constituem zonas vibrantes de comunicação e transformação. Alcançar uma condição de estar DENTRO do ENTRE, dentro de uma zona intersticial de sobreposição, e expandir esta zona de contato seria uma estratégia para reconfigurar o corpo e integrá-lo melhor à percepção, reunir sensibilidade, sensação e intelecto, obter a fruição do corpo vivo em um estado de consciência e de afetividade amplificados? Como experimentar o ato de EXISTIR com o corpo todo desperto, e alcançar um ESTADO DE SER no qual experiência direta e indireta já não se diferenciam, onde externo e interno estão entrelaçados, onde há uma simbiose entre corpo, espaço-tempo e alteridade? O grande desafio é incorporar o não controlável através do improviso com inteligência, alcançar uma situação vibrante, sensível, sutil e criativa de sincronicidade entre o SER e o ESTAR, um espaço-tempo ontológico do self entre a memória e a entropia, no qual possa haver uma fusão, um lugar que reúna o sujeito e o meio, onde a percepção do estado de existir, tanto na condição de indivíduo como na de parte de um coletivo, seja simultânea e intensificada.

Mas COMO?

Monique Allain


ALGUMAS PALAVRAS

Os trabalhos são uma forma poética de pensar as relações entre o homem, os espaços que cria e transforma e o movimento decorrente desta dinâmica, dentro de uma dimensão privada e pública. O tripé arte, biologia e filosofia é o motor de criação.

O interesse pela biologia e pelas questões ambientais conduziu à escolha da formação inicial em ciências físicas e biológicas, da posterior atuação profissional como consultora ambiental, e sedimentou-se no processo de desenvolvimento artístico. A produção incorporou conteúdos que envolvem noções de sustentabilidade, de consciência pelo movimento, e da biologia do SER.

Partindo de uma compreensão do espaço como corpo e do corpo como espaço, as potencialidades sinestésicas da imagem digital são exploradas e funcionam como trabalhos autônomos ou como elementos-base para composição de diálogos, situações de encontro e de troca, tais como performances, intervenções urbanas, ações coletivas, instalações audiovisuais e “habitações". As propostas privilegiam a participação do público.

A hibridização de meios diversos, desde a pintura ao vídeo, à fotografia e à outras tecnologias digitais é um recurso constante e revela um território convergente nas diversas formas que a imagem hoje assume. Torna-se difícil diferencia-la em categorias, tanto no que diz respeito à técnica como ao modo de representação e apresentação. Assim, natureza e origem se perdem, os limites entre realidade e ficção, entre materialidade e virtualidade se dissolvem.

A intenção é propor vivências que possibilitem um mergulho “dentro do entre”, em zonas de transição e sobreposição (entre o objeto e a luz, entre a pausa e o movimento, entre a realidade e a imagem). Esses lugares estreitos e não rotulados são instáveis e oferecem um amplo potencial de comunicação e de transformação. Habita-los pode ser uma forma de expandi-los. A atmosfera criada através do diálogo entre os sons e imagens, geralmente em grandes formatos, visa subverter poeticamente as restrições espaço/temporais, romper com as referências habituais e propor a vivência perceptiva de lugares onde a integração entre sujeito, espaço e tempo aconteça de outras maneiras, onde um presente contínuo, suspenso e ampliado possa ser experimentado. Procura-se obter com isso, a fruição do corpo vivo em um estado amplificado de afetividade e percepção consciente, de modo a alcançar um “estado de ser” no gerúndio (“state of being”, termo empregado pelo artista Robert Morris), no qual a experiência direta e a indireta já não se diferenciem, onde externo e interno estejam entrelaçados e haja uma simbiose entre corpo, espaço-tempo e alteridade. Deste modo, talvez se possa alcançar uma maior sincronicidade entre o SER e o ESTAR, um lugar que reúna em um plano comum o sujeito e o meio, onde a percepção do estado de existir, tanto na condição de indivíduo como na de parte de um coletivo, seja intensificada.

Monique Allain

terça-feira, 22 de outubro de 2013

26/10/2013 HORIZONTES - Exposição individual


"Horizontes verticais urbanos encontram-se com horizontes rurais planos na exposição de Monique Allain. Paulistana, a artista sente-se intrigada com a substituição em sua cidade natal da percepção horizontal tradicional do horizonte, pela percepção vertical. Allain pintou e fotografou horizontes – tanto verticais quanto planos - e mesclou as duas mídias em impressões fotográficas sobre metacrilato. A pintura encontra o pixel digital e o resultado é surpreendente. Sente-se a fotografia, bem como a tinta. A fusão do pincel com o pixel emerge e cria um novo universo do qual nossa existência física e digital faz parte.
Além das impressões fotográficas, tem-se uma paisagem constituída de uma série de livros feitos à mão com papel japonês, um horizonte em branco que se abre ao horizonte da imaginação.
Para completar a exposição, um horizonte portátil - Horizonte de Bolso - irá ajustar-se vertical ou horizontalmente em seu celular ou tablet.
Basta baixá-lo através do QR Code e ele o acompanhará. Pegue agora seu horizonte!"
Tom van Vliet
  1- HORIZONTE QUADRADO LARANJA

3 edições

Híbrido de fotografia digital e pintura em metacrilato

180 x 180 m
2013

 
2- HORIZONTE QUADRADO VERDE
3 edições
Híbrido de fotografia digital e pintura em metacrilato
180 x 180 m
2013

 
3- HORIZONTE VERTICAL 1

3 edições

Híbrido de fotografia digital e pintura em metacrilato

270 x 90 cm

2013

 
4- HORIZONTE VERTICAL 2

3 edições

Híbrido de fotografia digital e pintura em metacrilato

270 x 90 cm

2013

 

5- HORIZONTE VERTICAL 3

3 edições

Híbrido de fotografia digital e pintura em metacrilato

270 x 90 cm

2013

 

6- HORIZONTE 1 EM TRÊS PARTES

3 edições

Híbrido de fotografia digital e pintura em metacrilato

100 x 300 cm (three pieces of 100 x 100 cm)

2013

 
7- HORIZONTE 2 EM TRÊS PARTES

3 edições

Híbrido de fotografia digital e pintura em metacrilato

100 x 300 cm (three pieces of 100 x 100 cm)

2013

8- HORIZONTE EM 8 VOLUMES

Instalação

3 edições

8 livros, cada qual com cinco lâminas de papel japonês, abertos e alinhados em duas vitrines.
Assessoria de projeto: Estela Vilela e Walter Moreira 
Execução de encadernação: Estela Vilela 
Execussão gráfica: Walter Moreira 
28,5 x 420 cm 
2006-2013

 







9- HORIZONTES DE BOLSO (POCKET HORIZON)

Imagem disponível para download gratuitamente em celulares android e iphone através de QR Code, com formato variável vertical e horizontal, conforme posição do aparelho.

Obra desenvolvida em parceria com o grupo aMuDi

2013

RELEASE
A artista Monique Allain apresenta mostra individual na Galeria Lourdina Jean Rabieh.
Em grandes cidades como São Paulo, a transformação na geometria do espaço é radical. Monique Allain propõe por meio do seu trabalho uma revisão no conceito de horizonte dentro de uma realidade contemporânea.
A exposição Horizontes abre dia 26 de outubro na Galeria Lourdina Jean Rabieh e permanece até 23 de novembro. A mostra conta com nove produções recentes: sete imagens em metacrilato construídas a partir de hibridização digital de fotografias e pinturas realizadas pela artista, uma instalação na qual livros feitos com lâminas de papel semitransparente dispostos lado a lado compõem uma paisagem que se expande horizontalmente, e por fim, uma imagem disponível para download gratuitamente em celulares android e iphone através de QR Code e aplicativo. Esta última obra foi desenvolvida em parceria com o grupo aMuDi, de alunos e ex-alunos de diversas unidades da USP interessados em unir arte e tecnologia. O formato da imagem varia entre vertical e horizontal, conforme a posição do aparelho: “É uma imagem mutante que se adequa às circunstâncias! Quem baixá-la terá um horizonte de bolso”, brinca Monique.
A artista salienta que a mostra procura revelar “...um território convergente, pictórico, fotográfico e cinematográfico da imagem atual, no qual é cada vez mais difícil diferenciar categorias, onde natureza e origem se perdem e os limites entre realidade física e ficção se dissolvem”.
A curadoria da exposição é do holandês Tom van Vliet, diretor do "World Wide Video Foundation" em Amsterdã.

Sobre Monique Allain
Monique Allain nasceu, vive e trabalha em São Paulo. Formou-se inicialmente em biologia e depois em artes visuais. O reingresso à faculdade aos 45 anos foi um ato de coragem e determinação. Em 2008 teve bolsa de residência concedida pela FAAP na Cité Internationale des Arts. Esta experiência foi determinante na aquisição de referenciais para o aprofundamento conceitual e o amadurecimento de seu processo criativo. Iniciou sua produção artística em 2000 e desde então vem participando de diversas exposições no Brasil e no exterior, em espaços institucionais, públicos e urbanos. Com seu trabalho investiga as relações entre corpo, espaço e alteridade dentro de uma concepção social e biológica.

Sobre Tom van Vliet
Tom van Vliet, diretor do "World Wide Video Foundation" em Amsterdã, e fundador do "Word Wide Video Festival", fez a curadoria de inúmeras mostras internacionais que envolvem aspectos estéticos e conceituais da imagem. Realizou exposições em museus tais como o Stedelijk Museum, Haags Gemeentemuseum, Reina Sofia Museum e Pusan Biennial.

Sobre a Galeria Lourdina Jean Rabieh
Há mais de 25 anos no mercado de arte, Lourdina Jean Rabieh dedica-se desde 2010 exclusivamente à arte contemporânea, com o propósito de promover e difundir a obra de artistas nacionais e estrangeiros, emergentes e consagrados. Sua aposta está na combinação de qualidade com propostas arrojadas, que ilustram a diversidade da prática artística contemporânea.

Horizontes
Abertura: sábado 26 de outubro de 2013 das 16hs às 20hs
Encerramento: 23 de novembro
Dias e horários de funcionamento: Segunda à sexta das 10h às 19hs / sábados das 11h às 17hs.

Galeria Lourdina Jean Rabieh
Alameda Gabriel Monteiro da Silva, 147.
Tel: (11) 3062-7173.
Segunda à sexta, das 10h às 19h; Sábados das 11h às17h.




16/10/2013 ECOSSISTEMA ESTÉTICO: Nú Ar

Texto de autoria de Augusto Calçada, Lucila Meirelles e Monique Allain sobre a instalação de vídeo "Nú Ar" concebida pelos três artistas. O texto foi apresentado no 22o Encontro da ANPAP em Belém (Associação Nacional dos Pesquisadores em Artes Plásticas).


RESUMO
Este artigo tem como propósito investigar o potencial poético da imagem sonora em movimento na obra de arte contemporânea, destacar sua participação no ecossistema orgânico-cultural e refletir sobre suas implicações e possibilidades nas questões sustentáveis. Se, como observa Miriam Vilela, diretora da “Carta da Terra”, somente o que emociona transforma, a experiência artística é uma ferramenta poderosa para promover reflexões sobre questões socioambientais. A obra dialoga com os afetos. Apoiando-nos neste fato e nas colocações de Vilém Flusser que defende o aprimoramento de um pensamento imagético e sensório capaz de elaborar conceitos, apresentamos o projeto de videoinstalação “Nú AR”  como uma tentativa de  abrir um diálogo sensível, artístico e filosófico com o público, sobre estas questões.
https://vimeo.com/64846344 
Palavras chave: Arte contemporânea, videoinstalação, sustentabilidade, contaminação, aquecimento global.


ABSTRACT
This article aims to investigate the poetic potential of mooving and sound images in contemporary art, to highlight their participation in our ecosystem organic-cultural, and to reflect on its implications and possibilities on issues involving sustainability. If, as noted by Miriam Vilela, director of the "Earth Charter", only what affects the emotional sphere transforms, the artistic experience is a powerful tool to promote reflection on socio-environmental issues. The poetic work dialogues with the affections. Relying on this fact and on Flusser placements which believe in the necessity of improving an imagistic thought and sensory able to develop concepts, we present the project of the video installation "Naked AR" as an attempt to open a dialogue sensitive, artistic and philosophical with the public, on these issues.
https://vimeo.com/64846344
Key words: Contemporary art, video installation, sustainability, contamination, global warming.

Este artigo tem o propósito de promover o potencial poético da imagem sonora em movimento na obra de arte contemporânea, destacar sua participação no ecossistema orgânico-cultural e refletir sobre suas implicações e possibilidades nas questões que envolvem sustentabilidade.
Com este intuito apresentamos o projeto artístico desenvolvido pelo coletivo Mitocôndrias  “Nú-AR”. A iniciativa foi a forma que encontramos de buscar novos modos de pensar, sentir, criar e processar poeticamente ideias em torno do assunto. A proposta é levar as pessoas a refletirem de forma mais filosófica e metafísica sobre os caminhos e as atitudes a serem tomadas em relação ao ar que respiramos hoje. Arte e vida são inseparáveis. Se a arte está no cotidiano e se pronuncia frente aos desafios do seu espaço e do seu tempo, sustentabilidade hoje é um assunto que não pode estar fora de pauta.
Nós artistas, ao interpretarmos o mundo com nossas percepções particulares, ao materializarmos nas obras nossa subjetividade, transmitimos como vemos este mundo, nossas dúvidas, críticas e questionamentos, na esperança de produzirmos com isso diálogos, mudança de paradigmas e atualização na compreensão das dinâmicas do espaço-tempo.
Ao refletirmos sobre os mecanismos de aprendizagem, propomos a experiência artística como medida criativa para convocação dos mesmos, em favor de um desenvolvimento sustentável (ALLAIN, 2012). Se, como observa a diretora da “Carta da Terra”[i], Miriam Vilela[ii], somente o que emociona transforma[iii], a experiência artística é uma ferramenta poderosa para promover reflexões sobre questões socioambientais. A obra poética dialoga estreita e intimamente com os afetos. Por isso a arte, poderoso agente político-social transformador da sociedade, não deve ser negligenciada como recurso de conscientização para a expansão de uma consciência mais cidadã. Seu alcance é ampliado quando abordada interdisciplinarmente.
A segunda lei da termodinâmica[iv] explica este fato. Ao apontar a irreversibilidade existente nos sistemas isolados, destaca a importância de preservá-los abertos. A hibridização é uma das consequências do cruzamento entre os sistemas que esta abertura possibilita, da mesma forma que as relações interdisciplinares ampliam a visão de mundo e as perspectivas de ação. Esta necessidade explicaria a tendência de hibridização em todas as instâncias da existência do homem contemporâneo? Justifica talvez a contaminação da imagem poética e das práticas artísticas com sistemas bióticos e abióticos que ultrapassam amplamente a complexidade do sistema arte e envolvem toda e qualquer questão relacionada à vida. Aliás, esta simbiose entre vida e arte foi uma das grandes conquistas alcançadas no século XX. De que maneiras podemos explorar melhor as transversalidades e integrações possíveis do sistema arte com campos da existência do ser humano, como o da saúde, da esfera social, política, filosófica, ambiental, biológica e muitas outras?
No que diz respeito à imagem, voltando ao princípio de que a sobrevivência e a vitalidade de qualquer sistema é ampliada quando há entrecruzamentos com outros sistemas[v], buscamos criar imagens de natureza antientrópica que pertençam e atravessem múltiplos sistemas. Para tanto, nos apoiamos nos pressupostos de Flusser (2007). Segundo o autor, dispomos de dois tipos de mídias para transmitir os códigos ou mensagens: a linear, na qual o pensamento é expresso em texto, e a de superfície na qual o pensamento se faz através da imagem. Tanto a escrita como as imagens são mediações entre o mundo e o ser humano; são informações.
A civilização em seus primórdios se apoiava na imagem para comunicar-se. Esta pode ser abarcada em seu todo instantaneamente, permitindo, ao ser decifrada, associações espaciais e multiplicação de significados. A imagem aponta do signo para o significado. Ela pertence ao mundo animado. No entanto, este também é um mundo de mito. Apesar de ter o propósito de dar significado, a imagem propicia a idolatria e prende o homem na alucinação. (FLUSSER, 2007)
De acordo com o autor, com o desenvolvimento da abstração, cada vez mais o homem passou a fazer uso da escrita para comunicar suas ideias. A linha escrita relaciona o símbolo ao seu significado, representa e descreve alfabeticamente o mundo tridimensional em uma série de sucessões na forma de um processo e foi fundamental para promover uma consciência histórica e para proteger o indivíduo da imaginação alucinatória. No entanto, impõe uma estrutura ao tratar-se de um código linear e, portanto, exigir uma temporalidade para sua apreensão. Além disso, provém de uma abstração que aliena o sujeito.
Desta forma, o ser humano, ao procurar descrever o mundo, precisou quantificá-lo e para isto fragmentou-o e desenvolveu um código numérico que permitia anexar um número aos itens nele inseridos. Com os avanços tecnológicos e a era digital, desde que os números foram traduzidos em tons e cores, o cálculo encontrou uma forma de projetar a partir de si mesmo mundos perceptíveis aos sentidos. A imagem recuperou sua importância na mídia e foi incorporada essencialmente pela cultura de massas. (FLUSSER, 2007).
No entanto, para o autor, estamos ainda muito condicionados ao caráter linear de uma narrativa. É preciso que o “pensamento-em-superfície” incorpore o “pensamento-em-linha”, só então estaremos caminhando para uma nova estrutura mental. Tanto a elite quanto as massas ficaram alienadas: a elite, com sua abstração, distanciou-se da realidade; a cultura de massas escondeu o caráter ficcional da imagem. O ideal seria a união das duas mídias, o que proporcionaria ao pensamento imagético uma capacidade maior de elaborar conceitos com preservação do sensório na representação dos fatos. A síntese de ambas talvez resultasse em uma nova civilização.
Levando em conta as colocações de Miriam Vilela, que valoriza a emoção nos processos de aprendizagem e transformação e de Vilém Flusser, que defende o desenvolvimento e aprimoramento de um pensamento imagético e sensório capaz de elaborar conceitos, apresentamos o projeto de videoinstalação “Nú AR” (https://vimeo.com/64846344) como uma tentativa de  abrir horizontes através da imagem poética sonora em movimento, criando um diálogo sensível, artístico e filosófico com o público, sobre estas questões.
O vídeo que compõe o trabalho é uma animação criada a partir da ideia de como o  efeito da carbonização nas cidades atua nas mudanças atmosféricas e climáticas do planeta. Não se trata de uma imagem ilustrativa, didática, antropológica ou geográfica, mas artística, que busca atingir a esfera sensível de seus interlocutores e ao mesmo tempo conduz a uma reflexão sobre nossa participação na construção do espaço público compartilhado, do ar que nele respiramos e da energia que dele se desprende. Acreditamos que o vídeo possa levar seus interlocutores a um posicionamento consciente, coerente, responsável e afetivo, através de reflexões cinéticas e sonoras.
Através da obra poética, o vídeo “Nú ar” quer chamar a atenção para o fato de que os níveis de dióxido de carbono da atmosfera aumentaram perto de 30% nos últimos 200 anos, de que as cidades são responsáveis por mais de 70% das emissões de gases de efeito estufa, de que 80% das florestas naturais foram destruídas. Os desastres climáticos são cada vez mais frequentes, e mais de 20% das espécies vegetais e animais correm o risco de se extinguir, caso a temperatura global aumente mais que 1,5 a 2,5o C[vi]. Sustentabilidade... O que quer mesmo dizer esta palavra?
Por um lado, a imagem do vídeo é uma animação sintética e contaminada. Por outro, ela tem uma natureza ecológica. Ambas transitam por diversos universos da cultura, sem deixar se aprisionar por um único sistema. A videoinstalação Nú AR  mostra o ciclo da existência: nascimento, vida e morte do processo de carbonização.
A apresentação da videoinstalação em centros culturais, áreas urbanas, museus ou instituições, visa colocar o público diante de um mundo animado em ressonância com sua subjetividade frente às questões ambientais. A ideia é envolvê-lo e conduzi-lo para uma experiência sensível e tátil, na qual novas percepções e compreensões da dinâmica que envolve sua relação com o espaço sejam possíveis.










 
Ficha técnica da obra Nú AR
Coletivo Mitocôndrias[i]
Nú AR
Videoinstalação
2013
Projeção do vídeo Nú AR, constituído de três imagens sincronizadas, cobrindo totalmente três paredes consecutivas de uma sala.
Vídeo Nú AR
3’21”
Concepção e direção: Coletivo Mitocôndrias
Edição: Augusto Calçada
Trilha sonora original: Marcelo Sanches

Em um ambiente imersivo todo branco[ii], três projeções simultâneas ocupando integralmente a parede do fundo e as duas paredes laterais, mostram imagens densas de gases e fumaça que se espalham e contaminam o ar[iii]. Estas se propagam no restante da sala devido ao brilho e a cor branca do teto e do piso. Elas nos remetem à dor do mundo, ao choro do universo e a fragilidade da nossa existência. A força da combustão cresce progressivamente; no entanto, não é orgânica, e sim, criada pelo homem. Um entulho industrial atmosférico. A trilha resgata um sentimento de ancestralidade, de suspensão, de melancolia. O som representa o lamento da natureza[iv]. As projeções provocam reverberações, progridem e possibilitam a vivência de novas sensações. Desnudar a atmosfera e trazer outra realidade vem ao encontro do título que escolhemos para o trabalho.
Still do vídeo utilizado na instalação Nú AR.
Propomos uma experiência imersiva que provoque, através das potencialidades sensórias da imagem sonora, uma reflexão sobre o nosso mundo em combustão, sobre o clima contemporâneo e no que ele pode se transformar. Temos como intenção estimular novos sentimentos e posicionamentos sobre o assunto.
O diferencial desta videoinstalação reside no fato de demonstrar, de forma cromática, poética e sensória, uma questão fundamental para a existência da humanidade: a carbonização mundial. Nossas atitudes constroem o espaço onde vivemos e, portanto, nosso futuro[i]. Despertar a atenção do público sobre o quanto as questões ambientais o atingem é essencial para que se crie uma consciência mais coletiva. O assunto é atual e necessário. O ar que respiramos com as emissões de gases e o aquecimento global são problemas presentes nas pautas mundiais e provocam discussões em todas as instâncias sociais, políticas, econômicas e filosóficas.



Referências
ALLAIN, Monique. Estratégias de aprendizagem para o desenvolvimento sustentável: a experiência artística é uma alternativa? Disponível em: . Acesso em 28 abr. 2013.
CAPRA, Fritjof. O ponto de mutação: A ciência, a sociedade e a cultura emergente. São Paulo: Cultrix, 1982.
SÍNTESE DO C40 São Paulo Climate Summit 2011. Construindo Cidades Sustentáveis.  Prefeitura de São Paulo, 2012. Disponível em: . Acesso em 28 abr. 2013.
FLUSSER, Vilém. O mundo codificado. São Paulo: Cosac Naify, 2007.
SANTOS, Milton. Pensando o espaço do homem. São Paulo: Edusp, 2007.
VICTOR, David G. Conferências USP. In: Desafios da Globalidade. New strategies for a global environmental regime. Material de apresentação fornecido pelo palestrante, 2011.


Monique Allain
Artista e pesquisadora, mestre em Artes Visuais pela FASM-SP, bacharel em Artes Plásticas pela FAAP-SP (2007), com Licenciatura em Ciências Físicas e Biológicas (1980) e pós-graduação em Genética (1982) pela USP-RP. Investiga as relações entre corpo, espaço e alteridade dentro de uma concepção sustentável. Trabalha com imagem digital, instalações e performance.

Lucila Meirelles
Videoartista, performer, diretora de vídeo e TV,  mestre em Artes Visuais pela ECA USP e bacharel em História pela PUC-SP. Curadora de cinema e vídeo e de programas de TV (SESCTV). Recebeu prêmios nacionais e internacionais como autora de vídeos experimentais. Realiza intervenções urbanas e também instalações em espaços culturais.

Augusto Calçada
Videomaker, bacharel em comunicação social - Radio e TV pela Faculdade Rio Branco SP, e técnico em Design Gráfico pelo Centro Paula Souza. Responsável pela edição da série “Oficios” para o SESCTV e criador de vídeos experimentais.





[i] COLETIVO MITOCÔNDRIAS é um grupo que se constituiu naturalmente entre amigos, a partir de discussões sobre temas contemporâneos de interesse coletivo e socioambiental e o desejo de desenvolver uma produção poética conjunta calcada em pesquisas vivenciais com a imagem e com o som. Augusto Calçada, Lucila Meirelles e Monique Allain integram o grupo.
[ii] Sala com 16m2 (4 x 4 m) e 3m de pé direito.
[iii] A luminosidade da sala é dada apenas pelas projeções.
[iv] Quatro caixas de som colocadas nos cantos da sala conferem uma espacialidade ao áudio.
 


[i] Instrumento desenvolvido na década de 1990 que reúne valores discutidos em foros internacionais por especialistas de diferentes áreas. Estes reuniram esforços para redigir uma “carta” que servisse como marco ético em direção à sustentabilidade e um instrumento de educação para uma maior conscientização de nossas responsabilidades com o meio e com a alteridade. A “Carta da Terra” é também uma iniciativa de mobilização internacional, uma declaração de princípios éticos e sustentáveis, reconhecida pela ONU, por governos, empresas e ONGs nos cinco continentes.
[ii] Mestre em Administração Pública pela Universidade de Harvard, brasileira, radicada na Costa Rica desde a década de 1990.
[iii] Síntese do C40 São Paulo Climate Summit 2011. Construindo cidades sustentáveis.
[iv] A segunda lei da termodinâmica observa nos sistemas fechados o aumento irreversível de entropia, ou seja, de desordem, de transformação da energia em formas que diminuem sua força de trabalho (CAPRA, 1982).
[v] Muito mais do que quando os elementos que compõem um mesmo sistema se interconectam.
[vi] Síntese do C40 São Paulo Climate Summit 2011. Construindo cidades sustentáveis.